No rés-do-chão situavam-se as cortes do gado, arrumações para carros, alfaias e produtos da terra – tulhas do cereal e das batatas – salgadeiras e outras instalações complementares.
Na atual receção, guardavam-se as ovelhas, como testemunha ainda o boilão de couceiro que servia de fixação a uma cancela. Nas restantes galerias, rodeando o rechio ou quinteiro abrigava-se o restante gado: bovinos, muares, galinhas, porcos...
Pelo rechio corria um veio de água apropriado para a lavagem e condução dos estrumes, com saída sob a porta da frente, a qual teria, antes das obras, uma rosácea sobre o outão.
A “cortinha” para as novidades e o milheiral no campo defronte da casa eram desse modo fertilizados de forma fácil e imediata.
“Aí à frente tinha um pomar muito ajeitado”, sendo as maçãs especialmente apreciadas pela garotada das casas vizinhas.
Havia uma passagem subterrânea, com óculo no rechio e saídas diversas no exterior, cobertas com lajes. No seu interior, este túnel tem um espaço mais amplo, junto ao largo do Eirô, onde supostamente se reuniam alguns lavradores para tomarem decisões em conjunto, ou para se abrigarem em períodos conturbados, como aconteceu nas perseguições que a República aqui levou a cabo contra ativistas monárquicos. Deste amplo espaço subterrâneo seguiriam ramis para os carvalhos da cruz e para a fonte de adro, entre outros.
Ao atual auditório davam o nome de corte do “barrão” ou “combarrão” (devirado de barra, para guarda de palhas).
À atual sala de exposição de alfaias ou abegoaria correspondia a antiga corte dos bois.
Outros bens alimentares, como carne e fruta, eram conservados na adega, o espaço mais frescos do atual bar, onde ainda se mantém a salgadeira em pedra. Aqueles que conheciam a casa relembram as prateleiras de fruta que existiam nesta área, trazida à cabeça pelos caseiros de Semelhe, de Burundelos, de Pedraça, de Abadim, de Riodouro. “A família tinha muitas quintas na Ribeira; eram sete caseiros, mas a pagarem medidas grandes”.
O andar sobradado destinava-se à habitação; o acesso a esse andar fazia-se por duas escadas exteriores de pedra, com patim; uma na fachada principal e outra de serviço, nas traseiras da casa.
Na cozinha, a dependência mais importante, decorria toda a vida de relação da casa, junto à lareira, ladeada pelos escanos, pela burra da caldeira, e pelo forno do pão. A chaminé recobria a lareira, de lés-a-lés da parede. Sobre uma bancada, assente em dois pés pequenos, colocavam os cestos com hortaliça ou com batatas; essa pedra, depois do último incêndio que aqui ocorreu, foi mudada para fora, para assentar os cântaros de água à porta da cozinha.
Atrás da lareira, sob a grande chaminé, estava o cinzeiro; a cinza tanto era boa para os campos como para as lavagens de roupa, sendo para este caso escolhida e peneirada a melhor.
A pia do cortiço onde se processavam as barretas, ainda visível neste espaço, tinha escoamento para o exterior. A cinza não era retirada diariamente, armazenava-se nessa pilheira atrás do estrafogueiro, que só mais recentemente passou a ser de ferro.
Pelos quartos da família e dos hóspedes, na ala sul, distribuem-se hoje o gabinete de trabalho e a biblioteca, e à sala dos teares, onde se encontrava também a comôa, no lado norte, corresponde atualmente a sala de exposição de têxteis.
A varanda interior lajeada, larga e coberta em toda a volta, sobranceira ao rechio, servia de corredor de acesso aos diferentes espaços e era utilizada para certos trabalhos caseiros.
A contígua “sala da eira” ligada à Casa por um passadiço superior à rua, era preparada para os velórios e demais rituais fúnebres, para a visita pascal e para alojar o clérigo e outros visitantes ilustres. Como sucede noutras casas de lavradores, a Casa possuía aqui a sua sala com oratório e nicho esculpido para colocar a imagem de devoção. Este edifício do séc. XVIII é de arquitetura características do barroco popular e mais recente que a casa de habitação permanente. Servia de celeiro permanente no piso inferior, que possuía um tulhão lajeado onde se guardavam batatas e outros produtos.
Próximos ficavam a eira e o canastro, para debulha, secagem e armazenamento do “pão”.