Malhada do Centeio no Castelo de Montalegre

Foi uma dupla aposta de sucesso. Fazer a recriação da malhada do centeio no Castelo de Montalegre e na propriedade agrícola da Quinta da Veiga, arrastou muita gente que quis matar saudades dos tempos idos. Há mais de duas décadas que este tipo de maquinaria entrou em silêncio. A modernidade pulou o trabalho para um patamar onde o esforço humano e a produtividade são maiores. Todavia, a saudade fica. Não morreu com o tempo. Este sentimento foi vivido pelas centenas de pessoas que, de forma espontânea, construíram uma moldura humana considerável em torno deste duplo acontecimento.

«MONTRA FANTÁSTICA»
 
Sublinhar que esta notícia acontece pelo fim social que a envolveu. A ideia é recuperar o Pisão da aldeia de Paredes do Rio, um espaço comunitário que ainda existe com cobertura de colmo. Mais não seja por este fim, o voluntariado compareceu à chamada. Orlando Alves, presidente da Câmara Municipal de Montalegre, fala de «uma tradição muito nossa», envolta num «trabalho muito difícil, árduo e que envolvia toda a comunidade». Para o autarca estivemos perante «uma montra fantástica, uma operação que se desenvolve em vários tempos, com muita gente, com a etnografia do rancho de Meixide e com o padre Fontes. Vieram pessoas de Paredes do Rio, de Montalegre, funcionários da Câmara e turistas».
 
«QUINTA DA VEIGA ESTÁ COMO NUNCA A VI»
 
Muito requisitado por populares, que fizeram questão de felicitar o Presidente por mais esta aposta de sucesso, Orlando Alves confessa que «a Quinta da Veiga está como nunca a vi!». Uma corrente de memórias que «para a maioria dos presentes é saudade pelo reviver de tempos difíceis». Porém, esclarece, «o desenrolar dos anos também fez com que as pessoas aprendam a ver o passado com outros olhos e a sentir emoção e carinho». Em suma, «uma jornada de revivalismo e aprendizagem» que leva a «sentir a importância de recuperar a Quinta da Veiga para o erário público para que possamos planear ações amplamente participadas por toda a comunidade barrosã» bem como «projetos de revitalização deste espaço que já foi grandioso». A fechar, o presidente do município garante a intenção de transformar esta extensa propriedade agrícola «num espaço aprazível, de memória e de aprendizagem».
 
TEM A PALAVRA
 
David Teixeira – Vice-presidente da Câmara Municipal de Montalegre
«Hoje é um dia especial para o Ecomuseu e para mim porque ainda trabalhei com estas malhadeiras. Estamos a produzir os colmos que vão servir para renovar o telhado do pisão de Paredes do Rio. Um Ecomuseu é isto. É um museu vivo. É preciso tempo para que as pessoas percebam o que é o envolvimento da comunidade local. Trabalhamos os sentimentos e a memória coletiva. Foram os funcionários da autarquia que fizeram o ciclo produtivo e que hoje estão, também aqui, a recordar. Os diferentes intervenientes concertaram esforços para que, para além de toda esta recolha de memória, haja também um fim social que é a recuperação de um edifício comunitário e público. Isto faz todo o sentido na criação de um Ecomuseu. Foi uma boa surpresa, tanta gente presente. Fica o sabor de fazermos, no próximo ano, a malhada junto ao Castelo com a dimensão do que temos na Quinta da Veiga e conseguir reviver uma fotografia com mais de 70 anos que ainda existe nos arquivos de Montalegre: duas grandes medas de centeio junto ao Castelo».
 
Nuno Rodrigues – Responsável pelo Ecomuseu de Barroso
«É a primeira vez que estamos a fazer a malhada em Montalegre. Este local, junto ao Castelo, já era utilizado para isto no passado. Decidimos fazê-la já que o município também fez a sementeira do centeio. Era também uma tradição da vila. É nossa obrigação recuperá-la e, ao mesmo tempo, produzir o colmo para manter a traça original do pisão de Paredes do Rio. Foi um sucesso. Estas demonstrações permitem às pessoas reviverem os seus tempos de juventude».
 
António Morais da Costa – Presidente da Junta da União das Freguesias de Montalegre e Padroso
«É reviver o passado. Era um trabalho que eu gostava de fazer e que fiz durante muitos anos. Estou muito satisfeito por ver esta gente que está tão animada, sobretudo os emigrantes que ficam muito felizes com estas coisas».
 
José Carlos Moura – Presidente da Associação Social e Cultural de Paredes do Rio
«A ideia é fazermos o aproveitamento do colmo para recuperarmos o telhado do nosso pisão. Estamos a ver que será reduzido porque a palha está bastante seca e parte com facilidade. Estes métodos demonstram, mais uma vez, a evolução dos barrosões em termos agrícolas».